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O competitivo profissional de FPS nos consoles é um assunto deveras polêmico que sempre aparece nas discussões em diversos grupos e fóruns online vez ou outra. A diferença de velocidade envolvida entre as duas plataformas sempre é o mais forte argumento para justificar a ausência de campeonatos profissionais nos consoles. Apesar de sim, a questão de dinâmica e velocidade terem peso no que toca à ausência de competições maiores, não é o único e determinante fator para que a galera dos consoles encontrem dificuldades em se organizar e fazer acontecer.

Durante a Brasil Game Show 2018, tivemos a oportunidade de conversar com Luiz Américo Bulgari, idealizador e organizador da LBOX, uma liga competitiva profissional nos consoles da Microsoft, com foco em Overwatch. A principal função da liga é tirar os jogadores da casualidade, afinal, consoles são calcados em jogos casuais sem muito compromisso e a liga tem por objetivo dar recursos e experiências profissionais para os times que tiverem interesse em participar do programa.

A comunidade Xbox já possui alguns campeonatos profissionais oficiais com outros jogos, o que não acontece plenamente em Overwatch. Por isso, Bulgari acredita que há uma lacuna a ser preenchida.

Durante o bate-papo, Luiz nos revelou algumas dificuldades enfrentadas pela comunidade de consoles:

“O competitivo do console ainda é bem fraco, nós temos poucas equipes que são sólidas, com um staff por trás, com o pessoal de marketing por trás. Normalmente as equipes são formadas apenas pelos jogadores mesmo.”

Equipes de consoles são geralmente formadas por amigos ou colegas que acabam se esbarrando nos servidores dos jogos e começam a jogar juntos. Por isso, muitos times são bem sinérgicos pois já jogam a algum tempo juntos antes de formar uma equipe de fato. Entretanto formar um time não significa que serão jogadores profissionais da noite para o dia. Todos sabemos que treino é muito importante e que Overwatch exige muito da interação entre os jogadores para fazer acontecer partidas de alto nível:

“Não existe um treino específico, a maioria dos nossos jogadores já são top 500 e mestres, já tem uma vivência com o jogo, jogam desde o beta, eu já perguntei mesmo, já tive essa dúvida de mira e eles falaram que não, é só questão de acostumar mesmo. Só costume.”

ferente do PC, onde existem técnicas, configurações e periféricos para auxiliar no treino de mira e utilização de habilidades, nos consoles o treino é mais tático. Além disso, jogadores de console priorizam aprimorar previsões e game sense em detrimento à mira perfeita e tempo de reação. Além disso, existe a questão prática envolvida. São necessárias adaptações para que um campeonato aconteça plenamente, visto que a oferta de botões e comandos nos consoles é bem mais limitada que nos PCs, tanto para os jogadores quanto para quem atua como host de câmera durante as transmissões:

“O analógico as vezes ajuda no flicking e no tracking dos jogadores com certos heróis, mas é um pouco limitado, sobre a questão dos botões que a gente pula, agacha, usa a suprema e que usa o analógico também.”

Questionado sobre o uso de periféricos externos alógenos aos consoles, como o uso de mouse e teclado, Bulgari foi enfático em afirmar que a permissão de uso deles poderia ser benéfica para o crescimento e visibilidade das competições. Atualmente, apesar de alguns consoles permitirem uso de mouse e teclado em suas configurações e até em alguns jogos, Overwatch habilita a utilização desses, não reconhecendo-os como controladores. A única forma de utilizar um mouse ou teclado é através de adaptadores que “hackeam” o controle, fazendo se passar por um periférico oficial. O mais conhecido deles é o XIM4 Adapter mas existem outras variações:

“Os jogadores que usam adaptadores piratas para jogar Overwatch, eles já são reconhecidos. Nós temos uma forma de demonstrar e saber quando a pessoa está usando mouse e teclado ou não e eu acho na minha sincera opinião que é uma coisa que pode valer a pena pro console. Nós podemos até jogar competitivamente com o pessoal do PC, a gente pode conseguir montar campeonatos mais oficiais, fazer com que a Blizzard consiga fazer campeonatos oficiais e aí a gente pode conseguir ter investimento.”

Segundo Luiz, o uso de periféricos alógenos e piratas não são muito problema para os jogadores de alto elo que jogam com controle oficiais, e o grande problema na verdade é possibilidade de criar infinitas contas secundárias nos consoles, as famosas “smurfs”, que acabam por comprometer o ranking e bagunçar o matchmaking, além de dificultar a identificação de jogadores trapaceiros e mal intencionados:

“Os jogadores com o ranking mais alto, eles tendem a jogar mais com os jogadores de mouse e teclado e controle juntos. Já acompanhei partidas de mouse e teclado contra controle e não tem muita diferença. O problema do console é a criação de smurfs. Nossa criação de smurfs é simplesmente montar uma conta nova no mesmo XBOX e ele já tem acesso a jogar on-line. Tem pessoas que tem 20, 30  contas smurf só pra jogar de mouse e teclado e não afetar a conta principal.”

Apesar do uso de teclado e mouse poder ser benéfico para o cenário competitivo profissional nos consoles, não é segredo para ninguém que a grande parte da comunidade casual que joga nos consoles acha injusto sua utilização. Inclusive, Jeff Kaplan (diretor de Overwatch) já declarou que a Blizzard não apoia o uso de periféricos nos consoles, e que já recomendou às empresas (Sony e Microsoft) a bloquearem o uso desses nos seus equipamentos, já que sozinha a Blizzard não pode fazer muita coisa em questão de engenharia de software para combater essa prática, afinal, essas plataformas fogem do controle da produtora.

Quanto às barreiras encontradas para solidificação de um cenário competitivo profissional nos consoles em Overwatch, Bulgari revela que o maior entrave é a falta de investimento. Por ser realizada em plataformas com periféricos fechados, poucas empresas de acessórios para PC se interessam em investir patrocínio nos campeonatos:

“O tipo de barreira que podemos encontrar é questão de investimento. São poucas equipes que a gente tem no console, as equipes de Gear e as equipes de Rainbow Six são mais sólidas do que as de Overwatch. Equipe sólida que eu conheço hoje, é a Starlight que são uma parte das meninas que jogaram hoje e a Rain Gaming que jogou ontem. São duas equipes bem sólidas no cenário, com uma equipe de marketing por trás, com apoio financeiro também… O que pode pegar ali de limitação pros jogadores é investimento mesmo.”

Internacionalmente falando, o cenário competitivo nos consoles é praticamente inexistente e enfrenta as mesmas barreiras presentes no Brasil. Porém Luiz acredita que as coisas estão melhorando aos poucos e que os times brasileiros podem contribuir, ajudando e aprendendo com as outras regiões:

“Tem um campeonato (na América do Norte) que é sólido já tem um tempo, começou acho que a um ano também, junto com a LBOX e acho que internacionalmente tem tudo pra crescer. Os jogadores da América do Norte são melhores em habilidade do que os brasileiros e os brasileiros também às vezes mudam de região, já que tem como mudar de região no XBOX, pra jogar com o pessoal do América do Norte.”

Recentemente, a Sony liberou o crossplay que se encontra no momento em fase beta, limitado a poucos jogos. Questionado sobre a probabilidade desse vindouro recurso em Overwatch, Bulgari crê que a vinda de servidores comuns às duas plataformas pode ser, ao mesmo tempo, bom e ruim para a comunidade em geral, mas que será benéfico para o crescimento da atuação competitiva profissional. A possibilidade de criação de times mistos entre as duas plataformas (PS4 e XBOX) é apontada por ele um facilitador para o cenário:

“Pode ser benéfico e também pode ser ruim pra comunidade (o crossplay). A comunidade de console é muito tóxica, mas em questão de beneficiar o cenário, as equipes vão ser montadas mais facilmente, nós teremos mais jogadores, teremos mais campeonatos, mais pessoas interessadas. A gente não vai precisar ter uma plataforma para um, e uma plataforma para outro, campeonatos separados pro PS4 e pro XBOX.”

A LBOX está organizando um campeonato de PS4 que vai acontecer em novembro desse ano e Luiz nos contou que tudo seria muito mais fácil de organizar e realizar caso o crossplay já estivesse ativo nesse momento, porém uma integração entre consoles e PCs só seria plena caso o suporte a mouse e teclado nos consoles fosse uma opção também.

“A LBOX, em novembro, vai realizar um campeonato de PS4. Se o crossplay viesse hoje aos consoles, seria muito benéfico. As equipes seriam mais bem montadas e organizadas, teríamos mais pessoas vendo o cenário e não dividida por questões de briga de consoles. (uma união entre PCs e consoles) Daria certo, mas com o uso de mouse e teclado nos consoles.”

Com essa conversa, podemos ver que apesar das dificuldades enfrentadas pelos profissionais de consoles, eles continuam lutando por destaque e reconhecimento pela comunidade. Com a formação de ligas e times profissionais no cenário, jogadores de console podem ter reconhecimento aos poucos e alçarem espaço que sempre desejaram.

As partidas dos campeonatos da LBOX acontecem todos os finais de semana aos sábados e domingos e podem ser conferidas no Mixer oficial da liga.

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Att

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